21 outubro 2012

O que te faz chorar?

Não sei se o que eu vou dizer aqui tem muito a ver com moda, todavia, aos interessados em conhecer um pouco mais de mim, do que me foge a excentricidade, dou o espaço, aqui e agora, para o fazerem. 
Existe uma época na vida de todo mundo em que tudo parece dar certo, né? Um novo emprego, um novo motivo para sorrir, os quilinhos a menos a quem tanto suou para perdê-los, uma viagem inesquecível, uma maré quase que interminável de boas notícias, oportunidades infindáveis de gargalhar, olhar para cima e tão-somente agradecer. Quase poético. Quase perfeito. Digo quase porque a gente sabe: a nossa vida é feita de fases. Quase como um Mario Bros. Que, no decorrer da jornada, nos presenteia com um bônus no meio do percurso mais difícil. Que vez ou outra faz a gente se sentir imbatível. Que, porém, nos faz cair e tropeçar, num momento em que tudo começa a dar errado.
Sim, acho que consegui me fazer explicar direitinho, né? Os momentos bons vêm. Mas depois se vão e, junto dessa despedida, geralmente desembarca na nossa vida um período cheio de problemões. 
Ter o Ziperama - e ser lido por uma porção de gente - me traz um pouco de conforto. Parece que há anônimos que se importam comigo e com a minha opinião. Gente que dá valor pro que eu digo - ou que entra aqui pra me gongar; mas, porque também se importa, de alguma maneira, comigo...
Talvez seja por isso que eu me sinta tão à vontade em dizer quando as coisas vão bem ou não. E, neste momento, acho que não só eu, mas um bocado de gente também não esteja lá nos seus dias mais incríveis.
Por isso, depois dessa introdução, quero compartilhar um texto que li hoje. Em meio a tudo que a gente encontra na internet, quem me ajudou foi, como sempre, Caio Fernando. Foi ele quem me deixou de frente ao que parece um abraço na forma de palavras. Um conforto, um afago, uma palavra de carinho quando o mundo parecia desmoronar.

"Olhe, não fique assim não, vai passar. Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai aguentar, mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar. (Fernando Pessoa escreveu, num momento parecido, "hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu"). Dor é assim mesmo, arde, depois passa. Que bom. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. Que pena. A gente acha que não vai aguentar, mas aguenta: as dores da vida. Pense assim: agora tá insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Agora já é dez segundos depois da frase passada. Sua dor já é dez segundos menor do que duas linhas atrás. Você acha que não, porque esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já tá lá longe. A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, essa sensação de que pegaram sua traqueia e seu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo – é difícil de acreditar, eu sei – vai virar só uma memória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levante-se daí, vá tomar um picolé, ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando você for ver, passou. Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. Como cantou Vinícius: "É melhor viver do que ser feliz". Porque pra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, eu sei como dói. Mas passa. Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o único jeito de deixá-la pra trás é continuar andando. Você vai ser feliz. Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto de agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que tô falando a verdade. Eu não minto. Vai passar."
(Caio Fernando Abreu)

Eu sei, tá chovendo lá fora e o dia em Floripa não é dos melhores hoje. Mas, ah, bom domingo pra mim e pra vocês também :'-)

2 comentários:

De TuDo Um PoUcO disse...

Foi muito importante eu ler isso, obrigsda!!!!

De TuDo Um PoUcO disse...

Foi realmente muito importante!

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